Pátio e Sub-Localidades

 O meio albino encarou o ruivo sem demonstrar ter se importado com a "ameaça". Na verdade, demonstrava certa exaustão pela situação problemática entre um que era o capeta das travessuras e o outro o capeta do quinto dos infernos... Literalmente. Claro que sua intenção não era entrar em um combate, mas seria pior se ficasse de braços cruzados apenas observando e receber depois de seus superiores um "Poderia ter dito algo ou nos avisado".

 A desculpa do outro só serviu para deixar o cavaleiro de altar desgostoso com a situação. Antes que pudesse dizer algo ou mover-se, sentiu um estalo que fez seu corpo travar e suar frio. Um estalo vindo de sua mente, como uma lembrança, algo que deveria sempre ficar escondido nas sombras de sua alma. O garoto encontrava-se em um lugar diferente do qual estava. Tudo ao redor era escuro, a sua frente havia um grande espelho no qual conseguia ver sua imagem e... Alguém atrás de si que também se encarava no espelho.

 Tal pessoa usava vestes pretas de couro, os cabelos eram brancos e pretos, medianos batendo exatamente no ombro. Seu rosto era escondido por uma mascará que tinah em seu desenho dentes um tanto "Gore". Fernando era abraçado por tal e ambos encaravam o reflexo. O simples mover até o rosto foi o suficiente para retirar a mascará e se dar conta de que eram a mesma pessoa. Aquela que abraçava o garoto, era seu eu do passado que insistia em voltar.

 

 Piscou os olhos algumas vezes e respirou fundo. Toda aquela cena passou-se meramente em sua mente e nem sequer passou-se um minuto. Afastou novamente o desejo do ódio e dedicou-se em manter sua mente em paz. As vezes, acontecia do desejo insano lhe subir na menor situação em que a violencia ou rancor aparecem e é seu dever aprender a não deixar que isso lhe suba a cabeça e lhe domine.

 Passado do pior, seu olhar foi até o encrenqueiro e caminhou até o mesmo com a face... serena. Não demonstrava que o machucaria nem algo do tipo. Quando já próximo, sorriu como se nada tivesse acontecido.

-Oh no, fui descoberto! - Comentou rindo e levando a mão para trás da cabeça coçando e parecendo um pouco sem jeito. - Si si, Sou Fernando de Altar.

 De um momento pra outro, o sereno e calmo olhar transformou-se em indiferença e o meio albino rodou seu braço ao redor do pescoço do encrenqueiro, como uma chave de braço. Com a mão livre, fechou-a em um punho e esfregou no topo da cabeça do mesmo por pouco tempo e o soltou.

-Creo Yo, que não quer fazer uma visitinha aos mortos, non? Caso contrário, posso levar agora mesmo e deixar um tempo lá! Onde estavas com a cabeça de irritar ao hombre ali? E non me venha com a historieta de treinamento que estava longe disso! Hunf... Agora deixado claro... Você está bem?

Como esperado, vários de seus Meteoros acabaram encontrando violentamente a carne do mais jovem. Até mais do que o esperado por Harmonia, mas nada que lhe causasse arrependimento. Muito pelo contrário.

Não mudou de ideia ao enxergar o golpe do rapaz se aproximando. Nenhuma medida superior ao próprio corpo para testar a capacidade do adversário. Sem tentar se esconder.

“Hmmmmmmmm. Os movimentos não são nada maus. Essa técnica parece exigir algum nível de perfeccionismo devido à angulação. Bom, considerando o elemento da armadura, é seguro dizer que TUDO aqui envolverá um certo grau de… Ehehehehehehehe. Grau. Caham, de exatidão. Oh, lá vem o soco.”

Como de costume, Harmonia recebeu o ataque com a ponta de seu pé, onde o cosmo estava concentrado. Era seu método favorito de apreender forças externas sem ter que voar pelos ares ou resistir o impacto com sua cara de pau e o pescoço de ferro.
Limitou-se a deixar um sorriso escorregar por seu semblante, para que o bronze interpretasse como lhe conviesse.

E, mesmo no campo das palavras, ele o surpreendia.

“Humildade e resiliência. Inundam. Todo. O. Lugar.”

Seria o PIOR dos crimes ignorar aquela esperança e a solicitude do jovem Triângulo Austral em ser iniciado e testado no Santuário.
Harmonia decidiria depois se os espectros auspiciosos e as vozes alvoroçadas seriam relevantes para seu julgamento. Naquele instante de luta, não poderia desfocar.

“Ele disse… Olho. Dei occhi. Como o meu próprio, eles só significam algum conjunto de coisas.
Visão. Análise. Atenção.
Estou sendo observada.”

Harmonia sorriu. A solução lhe parecia óbvia.

Sem escrúpulos, adentrou mais a área de alcance do cavaleiro, quase oferecendo-se.

— Manter-se em pé não é algo tão fácil. Especialmente quando já se caiu. Aquele com a vantagem jamais deixará de se guiar pelo que já está podre em você. O desequilíbrio, literal e interior…

Não concluiu a frase. De seus punhos, saíram alguns poucos Meteoros focados nas costelas e rosto do garoto. De suas pernas, chutes carregados de alta precisão de cosmo procuraram exatamente os pontos que haviam sido acertados pelos Meteoros da primeira vez. O trunfo desses golpes? Velocidade. Tal sequência acabava e logo recomeçava. Harmonia se aproxima e se retira de vários ângulos, eliminando qualquer possibilidade de folga.

“Almejo os mesmos pontos. Da mesma forma. Com um único ritmo inquebrável, com uma pressão tão absurda que, em sua duração de cinco segundos, parece infinita. O monstro da repetição, Aquila…”

— Rush.

O que era pra ser um simples teste para testar os poderes de fênix contra o seu acabou por ficar muito mais chato do que Mikhail esperava. Uriel começou a lhe dar um sermão, que ele escutou mas fingiu o contrário.

— Se não tem tempo não deveria ter desperdiçado comigo. E não foi eu quem pediu pra ele se intrometer! - Resmungou o loiro, deixando o Fênix em paz.

Então se confirmou a teoria do garoto, um cavaleiro de prata tinha aparecido, e seu nome era Fernando. O rapaz se aproximou um tanto calmo e abraçou Mikhail, que fechou ainda mais a cara. Depois ele veio com o papo de levar para conhecer os mortos, o que fez ele se arrepiar.

— Mas como vocês são chatos! — Gritou ele, se livrando do braço de Fernando e colocando as mãos nos bolsos do casaco. — Eu estou bem e poderia ter continuado assim sem você ter aparecido! Só estava testando a resistência da muralha de cristal. É um crime fazer isso?

Depois viu outra presença próxima surgir, a amazona de Cisne. Já não bastava dois porres pegando em seu pé, agora teria mais uma para fazer isso. A vida de cavaleiro se mostrava bem chata quando se era um jovem curioso e agitado.

— Eu sou Mikhail, cavaleiro de unicórnio. mas você já deve saber disso. Sou o infeliz encrenqueiro. — Ele falou mais sério do que antes e seu capuz flutuou até estar em sua cabeça, ele cumprimentou a Cisne com um aceno de cabeça e começou a caminhar para longe daquele pessoal, na direção contraria a Uriel.

Pelo que parecia a amazona de prata esta pronta para atacar. Desculpe Donzella dell'argento, eu posso ver seus movimentos.

Com o terceiro olho eu conseguiria prever ataques que o inimigo irá desferir em centésimo de milésimos de segundo, e conseguiria desviar ou bloquear os que quase atingem a velocidade da luz. O Árduo treino com Ciro foi o suficiente para ver o quão rápido eu poderia prever fazer isso e descobrir meu limite, porem não conseguiria ficar mais que meia hora. A concentração na batalha é difícil de manter.

- Não, não.

Com minha telecinesia me impulsei para o lado, fora do alcance do ataque da amazona.

- Chakran!

Arremessei meus triângulos girando em direção a donzella, utilizando dos poderes psíquicos.

Senti que começara a ficar meio tonto mas me mantive firme.

“MALDIÇÃO. ODEIO ESSAS FADINHAS PSÍQUICAS QUE… Oh, não, espera, espera. Eu… Eu
deveria estar feliz. Esqueci da parte que isso é um teste. HmmmmmMmMMMmMmmmmM…
Eventualmente esqueço quais são minhas competências…”

Intuitivamente, a amazona não permitiu que mais movimentos que o necessário fossem em vão; o
que já era uma grande surpresa. Foi proveitoso, considerando o lançamento telecinésico dos triângulos da armadura do novato.
“Já é raro que os mais novos portem neurônios bem conectados na
cabeça exaurida de tanto apanhar; imagina só, tem até alguns que sabem raciocinar.”
Dessa vez, defendeu-se com a armadura dos antebraços, que estampavam a face da própria Águia estelar. Cruzando-os em x, usou a técnica padrão de destinar seu cosmo em pontos precisos para minimizar danos e compreender melhor o que a atingia.
Não que Harmonia fosse uma grande especialista em habilidades psíquicas além da compreensão espiritual e metafísico, porém... Sabia que tratavam-se de técnicas e estilos que ou se era patético, ou se era promissor. 8 ou 80.
"Bom, o potencial para o 80 definitivamente está aí. Tudo que precisava é de um grande empurrão de um penhasco infinito para que possa liberar mais e mais suas capacidades. Como um bom pássaro aprende a conquistar o horizonte."

— Ah, então você pode brotar e apagar por aí. Por todos os lugares. — Harmonia esperava que o
jovem entendesse que a hostilidade era tão somente um incentivo ao treino, nada sério. Fazer o
quê. Era tão divertido. — Que tal DESAPARECER DA MINHA VISTA?

Concentrando o cosmo nos pés, a Águia reuniu porções atmosféricas em forma de tornados e começou a chutar o ar. Saltava e ganhava altitude, como se o mero vazio fosse a mais firme plataforma elástica existente.
Aérea, o plano era encher a área dos mais fortes vendavais possíveis a partir de seus chutes. Não se causaria exaustão demais apenas para o treino, logo, manteve altitudes modestas. Mas suficientemente relevantes para que seu Vento Aureo inundasse a área e levasse perigo até mesmo para o mais sagaz dos falcões.

— VOLA VOLA VOLA
VOLA VOLA VOLA! VOLARE VIA!

Mikhail já estava indo embora para encontrar seu irmão e relatar o teste que fez com a sua muralha de cristal contra o fênix.

Um dos soldados do santuário se aproximou e disse que um dos cavaleiros estavam chamando por eles. Ficou animado, Mika sempre agarrava as oportunidades de missão. Embora fosse infantil e irritante, ele buscava sempre se aperfeiçoar e se esforçava pra fazer isso.

— O ultimo a chegar é um cavaleiro podre! — Disse Mikhail no mesmo momento em que foi sugado pelo nada e instantaneamente aparecendo na biblioteca, onde receberia a missão.

A sensação transpassada pela amazona era de que ela parecia querer me xingar de algo. Talvez eu estaria exagerando de mais para um treino? Será que eu poderia ser punido por estar lutando contra um semelhante?

Vendo a donzella dell'argento realizando aquele golpe pensei em usar aqueles outros dois métodos, mas resolvi apenas pegar os triângulos de volta.

Ouvindo a amazona falando alto daquela forma " Que tal desaparecer da minha vista" me fez pensar que realmente poderia a ter ofendido de alguma forma. Então simplesmente fiquei parado.

- Sinto muito Donzella.

Sabia eu que poderia acabar levando aquele ataque, mas eu não me importo. Não quero causar uma má impressão ou até mesmo rivalidade para com um irmão de armadura. Então continuei reverenciando  humildemente.